Food halls são tendência no mundo dos shoppings

 Food halls são tendência no mundo dos shoppings

Para Sérgio Nagai, superintendente regional da Ancar, empreendimentos sem propósito definido e desconectados de clientes não devem sobreviver. A tendência, segundo ele, são espaços com gastronomia, como o Tin Building (foto), instalado em Nova York onde antes funcionava um mercado de frutos do mar

O Tin Building, complexo gastronômico inaugurado no final do ano passado no Pier 17, à beira do rio Hudson, em Nova York, revela o que pode vir por aí no mundo dos shoppings centers.

O chef de cozinha Jean-Georges Vongerichten transformou o imóvel decante, onde funcionou por mais de um século um atacado de frutos do mar, em um epicentro culinário da cidade.

“Espaços com gastronomia como este de Nova York são tendência mundial”, afirma Sérgio Nagai, superintende regional da Ancar Ivanhoe, que administra 26 shoppings no país.

Não por acaso, vários empreendimentos administrados pela Ancar, como os shoppings Pantanal, em Cuiabá (MT), e o Parque das Bandeiras, em Campinas, operam com food halls.

Com mais de 1,3 mil metros quadrados, o Terraço PAN, no shopping Pantanal, é o primeiro espaço gastronômico de Cuiabá em um rooftop, atualmente com dez restaurantes.

Em Campinas, o Shopping Parque das Bandeiras inaugurou o ‘Quintal do Ban´, espaço com gastronomia, cenário para fotos e áreas para pets e crianças.

Em Natal (RN), o Natal Shopping acaba de inaugurar o Alpendre, a mais nova área ao ar livre para lazer e gastronomia, com cerca de 2,2 mil metros quadrados.

O espaço, circundado pela Praça das Jabuticabeiras, conta com 12 restaurantes.

Em Fortaleza (CE), o North Shopping Jóquei deve inaugurar neste ano o ‘Quintal do Jóquei’, uma área arborizada de 5 mil metros quadrados integrada ao empreendimento.

No espaço haverá opções de lazer, entretenimento e opções de gastronomia.

“O desafio dos shoppings centers é exatamente este: tornar o espaço cada vez mais agradável para que as pessoas possam relaxar, se divertir e, consequentemente, fazer compras”, diz.

No Tim Building, exemplo citado por Nagai para mostrar a importância dos food halls nos empreendimentos, não há lojas de roupas, calçados, produtos eletrônicos.

Mas, para o superintendente regional da Ancar, os shoppings podem ter tudo o que têm hoje, ampliando áreas para o bem-estar, com restaurantes, entretenimento, serviços, clínicas.

“Os shoppings sem relevância devem fechar, em um processo de seleção natural. Se não tiverem propósito definido, envolvendo a comunidade, não devem prosperar.”

CONEXÃO COM O CLIENTE

Diante de um consumidor cada vez mais envolvido com a internet, diz ele, outro grande desafio dos shoppings é conectar os clientes do on-line com o mundo físico.

“As duas jornadas são diferentes, a tendência é de os shoppings utilizarem tecnologia para unir os processos de compra on-line e off-line, tornando uma coisa só.”

Alguns dos 26 shoppings administrados pela Ancar possuem duas ferramentas, de acordo com ele, para facilitar o relacionamento com o consumidor na hora da compra.

Um aplicativo e uma assistente virtual, a Ana, que tira dúvidas por meio do WhatsApp.

No aplicativo dos shoppings, o consumidor fica por dentro de promoções, tem acesso a cupons de descontos em lojas e pode utilizar guia de geolocalização, por exemplo.

Por meio do WhatsApp, o cliente tem informações sobre eventos, filmes e horários de cinema e pode fazer reservas em restaurantes.

“Esses são exemplos de uso de tecnologia para se locomover no mundo físico”, diz Nagai.

Alguns dos shoppings da Ancar já contabilizam quase 200 mil downloads, como o Nova América, no Rio de Janeiro.

Existe uma discussão entre especialistas do mundo do varejo, se os aplicativos de shoppings podem de fato dar algum resultado financeiro para os empreendimentos.

Até porque os aplicativos funcionam como um intermediário entre os clientes e as lojas. Não seria mais fácil para o consumidor, perguntam eles, entrar diretamente no aplicativo da loja?

O que se discute também no setor de shoppings é como capitalizar a presença física nos empreendimentos com resultado comercial.

Para Nagai, a prioridade dos aplicativos de shoppings não é ganhar com vendas, até porque eles não funcionam como marketplaces.

“O que queremos é facilitar a vida do cliente, trazer fluxo para o shopping. Se o lojista vende mais, nós ganhamos mais”, afirma.

Quanto mais o consumidor usar o aplicativo, diz, mais o shopping vai ter informações sobre as pessoas que frequentam o empreendimento, a ponto de personalizar ofertas, indicar filmes.

“É uma forma de fidelizar, tirar eventuais atritos de compra”, afirma.

Se deseja ver um filme, o cliente compra os ingressos por meio do aplicativo, não precisa ficar em uma fila.

“O shopping não é um intermediário, é mais um canal para a compra de ingressos”, diz.

VENDAS

Nos 26 empreendimentos administrados pela Ancar, de acordo com ele, há shoppings que já faturam mais, em torno de 7%, do que antes da pandemia, como o Pátio Paulista.

Outros, diz, ainda não atingiram os números pré-pandêmicos, mas caminham para isso, principalmente os mais dependentes de escritórios, em razão do home office.

“Alguns shoppings estão voltando ao que eram. O fluxo diminui às segundas-feiras e às sextas-feiras, dias que as pessoas dão preferência para trabalhar em casa”, diz.

O que já está voltando aos números de 2019, de acordo com Nagai, são as taxas de inadimplência, que explodiram no período mais crítico da pandemia.

A taxa de inadimplência média dos shoppings administrados pela Ancar, de acordo com ele, é da ordem de 2% a 3% do valor a receber.

“Os descontos estão encerrados. O maior problema entre shoppings e lojistas foi a correção dos contratos, o que levou a ações na Justiça, mas nós não tivemos grandes problemas.”

No shopping Paulista, de um total de 260 lojas, cerca de dez saíram durante todo o período da pandemia, de acordo com ele.

LOJAS AMERICANAS

Por enquanto, diz Nagai, os shoppings administrados pela Ancar não tiveram problemas para receber aluguéis de espaços ocupados pela Lojas Americanas.

A rede, com pouco mais de mil lojas espalhadas pelo país, entrou recentemente com pedido de recuperação judicial por conta de uma dívida da ordem de R$ 43 bilhões.

“As maiores dívidas da empresa são com bancos e indústrias, não com os shoppings.”

A Lojas Americanas, diz, está localizada nos melhores pontos dos empreendimentos, que não terão problemas para serem repassados para outras redes.

Para Nagai, a Lojas Americanas deverá ser substituída por vários players, não por um, já que oferece um mix variado de produtos, de chocolates a utilidades domésticas e roupas.

IMAGEM: Tin Building/divulgação