Globalização da alimentação no Brasil

 Globalização da alimentação no Brasil

Historicamente o Brasil é um país miscigenado. Primeiro, pelas características da sua colonização, seguida pela escravidão. A partir de 1850 houve o estímulo à imigração europeia, posteriormente à imigração japonesa e, desde então, o País seguiu recebendo pessoas do mundo todo.

Originalmente, cada um dos povos se concentrou em regiões específicas e isso desenhou a cena gastronômica regional brasileira. Com os movimentos de migração interna, mais reconfigurações ocorreram.

Nos anos 90, o País vivenciou a abertura da economia. A partir desse momento, a amplificação da importação de alimentos, seja na forma de ingredientes, seja como produtos finalizados, permitiu aos consumidores ampliarem seu repertório de sabores.

Nos últimos 25 anos, outros elementos impulsionaram mudanças na cultura gastronômica. Sem dúvida, a reconfiguração da pirâmide social ampliou o acesso das populações C e D. Esse potencial de crescimento do consumo estimulou a indústria de alimentos a investir na vertical de foodservice, o que permitiu a amplificação do repertório de sabores ao qual as pessoas poderiam experimentar.

O acesso ao intercâmbio por estudantes, o crescimento das viagens internacionais, a expansão das redes de alimentação no País, principalmente as especializadas em hamburgueres e pizzas, e o protagonismo da figura dos chefes de cozinha e confeiteiros, que colocaram em evidência ingredientes dos biomas brasileiros… tudo isso novamente modifica o cenário.

Uma camada técnica avalia, mede e busca construir regras para que as pessoas possam usufruir dos alimentos de forma segura em relação a sua qualidade e equilíbrio em sua dieta. Nessa direção, nutricionistas, engenheiros de alimentos, veterinários e médicos sanitaristas trabalham em conjunto para proteger a população.

O comportamento do consumidor também molda essas mudanças. A digitalização, o uso frequente das mídias sociais como plataforma para a propagação de receitas, dicas e ingredientes, e os programas nacionais e internacionais ligados à gastronomia são fundamentais para amplificar movimentos como o vegetarianismo ou veganismo.

E agora, os conflitos mundiais, a fome, os desastres e as crises políticas geram um ambiente imigratório importante marcado pela busca de emprego, moradia e proteção. Nessa onda mais recente, o Brasil recebe venezuelanos, peruanos, bolivianos, haitianos, sírios e pessoas de diferentes países do continente africano.

Mais uma vez, a curiosa população brasileira se mostra aberta para conhecer novos sabores e surge uma profusão de pequenos negócios gastronômicos internacionais oriunda desses países, que se instalam em diferentes regiões, mas que permitem alentar os que tiveram de imigrar e permite aos brasileiros experimentarem.

O brasileiro é aberto, porém, ele sempre impõe ajustes baseados em suas exigências gastronômicas. Gosta da pimenta, mas ela precisa ter um grau de ardor específico. Gosta de frutas vermelhas, mas precisam ser mais adocicadas do que ácidas, ou seja, tudo precisa ser perfeitamente pensado.

Esse passeio histórico tem como objetivo provocar os distribuidores de alimentos sobre essas oportunidades, ao incluir em seu portfólio ingredientes especiais que permitam a perfeita operação dessas novas culinárias.

Lembrar aos operadores independentes sobre seu entendimento e atenção a esse tema de fusion food, uma vez que as grandes redes são apoiadas pelas indústrias, se amparam em pesquisas e estão mais preparadas para responder com maior rapidez.

E, por fim, aos varejistas alimentares. Se já se atentaram para incluir gôndolas com ingredientes internacionais que atendam às necessidades desses novos imigrantes no País.

A relação humana com o alimento é extremamente afetiva e fundamental para manter conexões com as melhores memórias.

Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice.
Imagem: Divulgação