Varejistas pegam carona no mercado de second hand

 Varejistas pegam carona no mercado de second hand

Seja por uma postura mais sustentável, por preços mais baixos ou por um estilo de vida vintage, o consumo de produtos usados ou seminovos alcançou um novo patamar em 2020.

Conhecido como second hand (segunda mão), esse mercado passou a fazer parte da estratégia de negócios de grandes varejistas que de formas distintas, passaram a trabalhar o conceito em suas marcas.

Uma pesquisa da empresa de análise de varejo GlobalData estima que o valor movimentado pelo segmento em todo o mundo deve ir de US$ 24 bilhões em 2019 para US$ 51 bilhões em 2025 – equivalente a um aumento de 112,5%.

Outro estudo sobre o consumo de luxo, realizado pela Boston Consulting Group, o BCG-Altagamma True-Luxury Global Consumer Insight 2019, revelou que a compra e venda de produtos de luxo usados está crescendo 12% ao ano entre os milionários e bilionários. Esse tipo de comércio representa 7% do mercado de luxo.

A OLX, empresa referência por incentivar o desapego e o consumo consciente, viu o seu acesso alavancar durante a quarentena. O número de visitantes aumentou em mais de 30% e o número de acessos ultrapassou os 8 milhões.

Além da dificuldade de acesso ao comércio gerada pelo isolamento, a empresa acredita que “a pandemia acelerou a ideia de conscientização, com consumidores bem mais preocupados com o que será deixado para as futuras gerações”, conforme divulgado em nota.

A Inffinno, plataforma de e-commerce brasileira de artigos de luxo seminovos, teve um aumento nas vendas de 36% em março e 33% em abril. No mês de julho a empresa conquistou um recorde histórico, com crescimento nas vendas de 40% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Muito mais do que a oportunidade de adquirir uma peça de qualidade a valores mais acessíveis, Mila Silbermann, criadora e sócia-fundadora da Inffinno, diz que há um maior interesse de pessoas em consignar suas peças de maior qualidade dado o cenário de crise econômica. “Quem tem boas peças e precisa de dinheiro enxerga a oportunidade”, diz.

Há dez anos no mercado, o brechó possui um acervo composto por mais de mil peças de grifes como Louis Vuitton, Chanel, Prada, Gucci e Hermès, cujos valores variam até R$ 50 mil, com tíquete médio em torno de R$ 2 mil.

A indústria de moda é responsável por cerca de 8% a 10% das emissões globais de gases estufa e é a segunda economia que mais consome água, liberando 500 mil toneladas de microfibras sintéticas nos oceanos a cada ano, segundo levantamento da ONU Meio Ambiente de 2019.

A indústria perde anualmente cerca de US$ 500 bilhões com roupas que vão para lixões e aterros sem serem recicladas.

NO VAREJO TRADICIONAL

A percepção de que o consumo de seminovos harmoniza a busca por preços melhores, preservação do meio-ambiente e responsabilidade social tem ressignificado hábitos e impulsionado a economia compartilhada.

De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), já são mais de 14 mil brechós abertos pelo país.

Surfando nessa onda, o Grupo Reserva anunciou seu investimento na Troc, startup curitibana de revenda on-line de roupas usadas.

Navegando pelo site da Reserva é possível acessar a aba de second hand chamada de Reserva + Troc e adquirir peças seminovas da marca. Por lá, é possível filtrar a pesquisa por usado, novo com ou sem etiqueta e usada e em perfeitas condições. Há por exemplo, peças com etiquetas que são vendidas de R$ 199 por R$ 84.

Incorporada ao grupo, cabe à startup fazer todo o trabalho para quem deseja vender as peças na plataforma. Em São Paulo e Curitiba, a startup retira as peças na casa dos clientes, analisa se as peças estão dentro dos padrões da plataforma, fotografa e coloca à venda no site.

A cliente consegue acompanhar todo o status de venda das peças e a plataforma faz a divisão automático do percentual de pagamento que vai para a cliente e para a empresa.

Quem vender as peças de acordo com os padrões da startup recebe 20% de desconto para gastar na próxima compra da Reserva.

O mesmo modelo é replicado pela Arezzo, do mesmo grupo da reserva. Há menos de um mês, a calçadista passou a competir no mercado de produtos de segunda mão, abrindo uma nova frente de atuação no varejo.

Outras gigantes varejistas do ramo da moda, C&A e Renner, de forma independente, se uniram ao projeto Sacola do Bem. Trata-se de uma iniciativa desenvolvida pelo brechó Repassa, com o objetivo de estimular o desapego de roupas, calçados e acessórios usados, para, posteriormente, serem vendidos no site do empreendimento.

A estimativa do Repassa é de que os brasileiros tenham mais de R$ 50 bilhões “parados nos guarda-roupas” e que poderiam fazer a economia girar. Atento ao dado e com o intuito de reduzir os impactos ambientais causados pela indústria da moda, o brechó desenvolveu o projeto Sacola do Bem.

Na parceria com as varejistas, os interessados solicitam a embalagem do programa no site ou a retiram nas lojas físicas, depositam os itens que não desejam mais e, em seguida, fazem o envio para a startup, que realiza curadoria das peças que irão à venda. A cada compra finalizada, o participante do projeto recebe 60% do montante.