ESG está presente no varejo brasileiro, mas não na intensidade necessária

 ESG está presente no varejo brasileiro, mas não na intensidade necessária

Debate sobre o tema ocorreu durante evento da BandNews FM com presença da Mercado&Consumo

A pauta ESG, sigla em inglês para “meio ambiente, social e governança”, está cada vez mais latente na sociedade e, consequentemente, gera impactos em diversas áreas de negócios, como o varejo. A forma como o setor está lidando com o assunto foi debatida durante o “Fórum BandNews: ESG no varejo”, evento realizado nesta semana pela rede de rádios em parceria com a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

A editora-chefe do portal Mercado&Consumo e colunista da rádio, Aiana Freitas, foi convidada para mediar o debate. Ao seu lado esteve Sheila Magalhães, editora-executiva de jornalismo da BandNews FM.

Apesar de os temas relacionados ao ESG não serem novos, o entendimento deles é recente para o varejo. A CFO da 99 Jobs e integrante dos conselhos do Instituto Inhotim e da WCD-Brazil, Jandaraci Araújo, explicou que eles entraram no foco mesmo nos últimos dez anos.

“É muito importante falar que ESG é uma jornada. Todas as empresas começaram a falar muito mais sobre o tema recentemente. Antes disso nós tínhamos áreas específicas que cuidavam de pilares de forma separada, não necessariamente com uma análise conjunta de todos os pilares como vemos hoje”, completou.

Comportamento do consumidor

A adoção de medidas ESG passa também por querer acompanhar a mudança do comportamento dos consumidores. Hoje, eles se importam com as práticas das marcas que consomem e querem saber, por exemplo, se os produtos vendidos são sustentáveis.

O impacto da pandemia

Os executivos foram enfáticos em citar as transformações causadas pela pandemia. “A pandemia escancarou uma desigualdade que já era latente. Estamos falando de um abismo que foi revelado. Isso não ocorreu em 2020, mas se acentuou em 2020”, disse Jandaraci. Para ela, as redes sociais também foram responsáveis pelo impacto dessas pautas durante o período.

“O mundo parou e todas as pessoas entenderam que não é só o papel do governo ou da instituição privada. É todo mundo junto, fazendo um processo de transformação para tornar o ambiente melhor – incluindo o ambiente de negócios”, completou Jandaraci.

Fukayama concordou que o período evidenciou falhas sociais e ambientais. “Durante a pandemia, o mundo viu a cada 26 horas um novo bilionário. Enquanto isso, o Brasil viu 33 milhões de brasileiros passarem fome. Isso tudo evidencia falhas estruturais”, destacou.

O executivo também explicou que, ao mesmo tempo, o período foi um grande convite para o planeta e para a sociedade, lideranças globais, públicas e empresariais se mobilizarem em torno desses desafios.

Liderança e diversidade

Como parte fundamental da sigla ESG, a governança é um dos pilares que precisam mudar e se movimentar para que os demais também possam progredir. “Não dá para gente achar que uma empresa vai mudar se não falarmos em mudar quem está tomando a decisão. Ter mais pessoas com mindsets e backgrounds diferentes – e diversidade, especificamente”, disse Jandaraci.

A executiva ainda destacou o risco de o greenwashing. O termo em inglês se refere à prática de promover discursos, ações e propagandas sobre sustentabilidade, mas pouco fazer na prática. “É o que a gente vê sempre: ‘Vamos avançar na pauta ambiental ou no impacto social’. Mas no primeiro momento de crise, a empresa retorna ao normal porque é o mindset e o modelo dos gestores que estão ali”, explicou Jandaraci.

Jandaraci se definiu como um case “improvável”: ela faz parte do 0,4% de mulheres negras que ocupam posições de liderança em empresas e conselhos. Ela ainda definiu o Brasil como o país da “minorização da maioria”, visto que mulheres e negros são maioria na população, mas estes números não são reproduzidos nos cargos de liderança.

“A história da Jandaraci, é a história de milhares de mulheres no Brasil. O que me diferencia delas é a oportunidade. É efetivamente as empresas entenderem que uma pessoa com essa trajetória pode agregar dentro de uma organização”, finalizou.

Imagem: Marcelo Audinino