Como a ESG deve mudar o mundo dos negócios

 Como a ESG deve mudar o mundo dos negócios

Dentre tantos desastres ambientais que o Brasil carrega em sua história, o rompimento de barragem da Vale em Brumadinho, em Minas Gerais, em 2019, trouxe à luz a responsabilidade, necessidade e importância de boas práticas sustentáveis em ambientes corporativos.

Pouco mais de dois anos depois dessa tragédia, ainda é comum ver empresas com a falsa de ideia de que construir um mundo mais sustentável se opõe a bons resultados financeiros. Livio Giosa, presidente do Conselho Nacional de Defesa Ambiental (CNDA) e coordenador geral do Instituto ADVB de Responsabilidade Socioambiental, afirma que cuidar do meio ambiente, ter responsabilidade social e adotar melhores posturas de governança são, na verdade, fatores que ajudam no balanço das empresas.

Práticas ambientais, sociais e de governança, conhecidas como ESG, na sigla em inglês, Environment, Social and Governance, vêm recebendo maior atenção mundial por estarem associadas a negócios sólidos, baixo custo de capital e melhor resiliência contra riscos associados a clima e sustentabilidade, segundo o especialista, que se reuniu na última quarta-feira (28/4) com integrantes do Conselho de Política Urbana (CPU) e o Núcleo de Estudos Socioambientais (NESA), da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), para debater o tema.

Cada vez mais utilizado por consultores financeiros, bancos e fundos de investimento para avaliar empresas de acordo com seus impactos e desempenho nas áreas de meio ambiente, sociedade e governança, o termo ESG tem sido a bússola de muitos investidores na tomada de decisão.

Giosa explica que esses parâmetros e métricas ambientais, também conhecidos como indicadores de sustentabilidade, abastecem o investidor de informações sobre as companhias onde eles estão alocando capital.

Em resumo, critérios ambientais indicam como cada empresa se relaciona com o mundo natural e a sua dependência de recursos naturais. Dados sociais ajudam os investidores a entender as preocupações de cada negócio em relação a direitos humanos, relações trabalhistas e à comunidade. Além disso, companhias com boa governança se tornam mais confiáveis e menos propensas a ceder para corrupção ou coerção.

Além disso, Giosa destaca que a agenda mundial passou a dar mais atenção ao tema. Ele cita o posicionamento de Joe Biden, novo presidente dos Estados Unidos, e a fala de Klaus Schwab durante o Fórum Econômico Mundial, em janeiro de 2020, em Davos, na Suíça, que destacou o incentivo ao plantio de um trilhão de árvores, além da sociedade 5.0, comprometida em reposicionar as tecnologias em benefício do homem.

Na opinião de Giosa, essa percepção é cada vez mais evidente no mercado com a criação de fundos verdes, financiamentos com juros diferenciados e valorização das ações nas Bolsas de Valores mundiais, refletindo as práticas das organizações por meio dos indicadores ESG.

Outro destaque do especialista, o movimento Reformar para Mudar, do qual a ACSP faz parte, formado por 32 entidades empresariais empenhadas em disseminar tais atitudes e que tem como missão transformar e reforçar modelos de governança baseados no desenvolvimento econômico, na responsabilidade social e no equilíbrio ambiental.

Nas palavras de Giosa, o movimento se une a fim de deixar um legado para as próximas gerações e estabelecer um direcionamento de atuação que consiste em melhorar os sistemas de governança por meio de três programas de impacto: o Programa Município Sustentável; o Projeto Bosques Urbanos; e o Programa de Reforço Educacional para a formação em Engenharia.

Antonio Carlos Pela, vice-presidente da ACSP e coordenador do CPU, acredita que, embora muitas empresas ainda estejam em estágio inicial, os temas ambientais e sociais no ambiente empresarial já começaram a evoluir e devem ganhar maior relevância com a atuação do movimento Reformar para Mudar.

“Há uma oportunidade para ir além e temos que avançar em comunicação. As companhias precisam entender seus impactos e dependência dos recursos naturais para identificar os riscos e oportunidades relacionados às suas áreas de atuação e saber como se comunicar de forma consistente com investidores”.

Na opinião de Alessandro Azzoni, coordenador do NESA, aqueles que estiverem comprometidos a impulsionar a nova economia verde, como, por exemplo, Japão e Alemanha têm feito em alternativa ao modelo econômico dominante em que vivemos atualmente, fundarão informalmente uma espécie de novo bloco econômico com incentivos para ter boas práticas incorporadas.

“Essa mudança de pensamento se tornou um ponto de atenção para o nosso conselho. É importante discutir não só as causas dos danos ambientais, mas também ações preventivas que podemos fazer dentro de nossas empresas. E isso vai muito além de preservar áreas verdes”, diz.