Carnes: aumento de consumo e de preço

 Carnes: aumento de consumo e de preço

Em um ano sem precedentes na história recente, o Brasil e o mundo atravessam um período de incertezas e medo, provocados pela pandemia do Corona Virus, responsável por mudanças profundas no comportamento social de todos nós.

Em meio a toda essa turbulência, com reflexos na economia mundial, vale a pena fazermos um recorte e analisarmos o que aconteceu e o qual a situação atual no setor supermercadista no Brasil, com destaque para o Estado de São Paulo.

 

Tomando o faturamento das lojas que fazem parte do painel de lojas Boltis, observamos que o pico das vendas, logo após o início da pandemia, ocorreu em Março, atingindo crescimento de 24% sobre a base de janeiro’2020, só sendo superado no mês de dezembro, influenciado pelo período de festas, quando o faturamento do setor atingiu crescimento de 42% sobre janeiro.

Enquanto isso o número de transações (tickets emitidos pelas lojas), em movimento contrário, sofre perda ao longo do 1º semestre, registrando queda de 13% em junho, sobre a base de cupons emitidos em janeiro e somente volta a atingir o patamar de janeiro, no mês de dezembro.

Tal movimento se explica pelo fato de que os consumidores, limitados pelas medidas de restrições impostas pelo governo e em respeito à segurança sanitária, deixaram de realizar suas compras com a mesma frequência que vinham realizando antes da decretação da quarentena, no Estado de São Paulo, a partir de 22 de março.

Em contra partida, registramos aumento do valor do ticket médio, no 1º semestre, que era de R$ 57,57 em janeiro, para atingir em maio, seu maior valor, de R$ 77,37, em maio, com crescimento de 34% sobre janeiro, o que compensa a queda do número de transações e ilustra bem o comportamento do consumidor durante o período de confinamento, que realizou compras maiores, com objetivo de formar estoques de segurança.

 

Já o 2º semestre, foi um período marcado pela estabilização das vendas em patamares próximos aos observados na média do 1º semestre, com marcação do pico das vendas no mês de dezembro, motivado pelo período de festas de final de ano, quando o faturamento atingiu crescimento de 42%, frente a janeiro, idêntico percentual de crescimento do valor do ticket médio.

As medidas de confinamento, definitivamente mudaram o comportamento de consumo das famílias brasileiras e novos hábitos se desenvolveram, em respeito ao distanciamento social. As refeições fora do lar e a cultura de frequentar bares e restaurantes ficaram limitadas. Ao invés disso, as famílias passaram a preparar cada vez mais suas próprias refeições.

Tomamos para a análise a seção de Açougue que retrata bem esta nova realidade e chama a atenção pelo seu desempenho ao longo deste ano, passando de uma participação sobre as vendas do setor de 10,3% em janeiro para 14,0%, em dezembro, com movimentos consistentes de crescimento e tendência clara de avanço das vendas.

Outro indicador relevante para esta análise está relacionado com a presença de produtos da seção de Açougue sobre os tickets totais emitidos. Em janeiro, a presença de Açougue nos tickets era na casa de 17,5% saltando para cerca de 20,5% em maio, indicando forte crescimento na base de clientes compradores, mantendo-se nesses patamares ao longo de todo ano.

Isso significou um crescimento significativo das vendas em volume, atingindo em maio (período logo após o início da pandemia), percentual próximo de 25% superior a janeiro superior a janeiro, tendo atingido no mês de maio, com pico das vendas em

dezembro, motivado pelo período de festas. Já o preço médio por quilo das carnes no Açougue, que se situavam em patamares próximos a R$ 17,00, a partir de junho apresenta forte tendência de alta, chegando a registar em dezembro R$ 23,42, neste último período também alavancado pela comercialização de produtos sazonais, que tem seu preço médio mais alto.

 

Esse crescimento observado na seção de Açougue é justificado pelo aumento de compradores, aqui representado pelos cupons de venda, que estavam presentes em 17,4% comparados aos tickets totais, em janeiro, para atingir em maio, um percentual de 20,4, mantendo-se nesse patamar por todo restante do ano, sendo que os cortes Bovinos estão presentes em cerca de 60 até 65% dos tickets do Açougue, seguido por Aves, em torno de 52 a 55% dos cupons e os cortes Suínos, com penetração entre 17 e 20% dos tickets da seção.

Dentre os segmentos do Açougue, destaque para os cortes Bovinos e Aves com participação de 45,% e 43,4% respectivamente, resultado da média anualizada, já os cortes Suínos apesar do menor nível de participação sobre as vendas, alcançam em dezembro o maior percentual de participação, atingindo 12,4% da tonelagem comercializada.

Adicionalmente, cabe destacar que dentre os cortes Bovinos, os maiores crescimentos estão localizados nas chamadas carnes nobres, como Alcatra, Contra File, Picanha e Filé Mignon, que somadas, em janeiro representavam uma participação de 17,6% sobre o faturamento do Açougue e chegam em dezembro, acumulando índice de 30,1%, com uma variação das vendas nesse período da ordem de 228% nesse período

 

EXPECTATIVAS PARA 2021

Diante da explosão de casos Covid-19 a partir de dezembro’2020, acumulando cerca de 1,5 milhão de casos da doença, ainda que com o início da vacinação em todo o Brasil, o governo estadual lançou mão em janeiro de novas medidas restritivas, com vistas a conter a expansão da epidemia. Nesse contexto, é de se esperar que pelo menos nos primeiros 3 a 6 meses do ano tenhamos dificuldade de experimentar uma retomada consistente de crescimento econômico. Já o consumidor do setor supermercadista deverá manter o mesmo comportamento observado ao longo de 2020, com distanciamento social, o que deve continuar a favorecer o consumo através do comércio eletrônico e os serviços de delivery.

Paralelamente, as famílias deverão consolidar seus hábitos de preparo de refeições no lar, abrindo mão de eventos sociais, festas, além da menor frequência a bares e restaurantes, para refeições fora do lar. Com isso, deveremos ter a manutenção da tendência de maior consumo de produtos para o preparo de receitas, assim como produtos associados à indulgência.