Supermercados: transição familiar ainda é um gargalo

 Supermercados: transição familiar ainda é um gargalo

Quando o assunto é sucessão familiar ou transição, termo mais usado ultimamente em função de algumas lideranças repassarem o seu bastão para terceiros, que não necessariamente os herdeiros diretos, ninguém melhor que o nosso convidado da entrevista de ontem (13), Rafael Haddad, CEO da Holding Varejista – Grupo Amo Varejo, Supermercado Katucha e Monster Açaí, para falar a respeito.

Afinal, ele aprendeu a gerenciar o setor supermercadista na prática, após o falecimento do seu pai, lidando com dívidas em torno de R$ 2 milhões, geradas por uma gestão familiar equivocada, com suspeitas de desvios, ausência de processos e controles, entre outros fatores.

“Empreender, na época dos meus pais, era mais fácil, porque eles também não tinham noção de fluxo de caixa, estoque, promoção, layout. Então, quando assumi a transição, tive que absorver toda essa pressão, que acabou me ajudando a ser quem eu sou hoje. Implantei processos, realizei prevenções de perdas, treinamentos com colaboradores, entre outras ações, até que em seis anos quitamos as dívidas e aumentamos o faturamento em R$ 1 milhão, no mesmo lugar e com a mesma estrutura de antes”, destaca Haddad.

Dessa experiência o empresário passou não só a gerenciar o Supermercado Katucha, como também expandiu o seu leque de investimentos em outras frentes, consolidando sua holding ao mesmo tempo em que realiza trabalhos de mentoria/consultoria.

E dessas vivências ele acredita que algumas dificuldades encontradas dentro do processo de transição familiar precisam ser consideradas se a empresa quiser obter bons resultados, como por exemplo:

– Se a área do varejo não é tão atraente como as outras existentes hoje, criadas até mais recentemente com a internet, como atrair o interesse das próximas gerações na sucessão familiar? “As pessoas acham que o mercado online vai dominar o mundo e não querem mais investir no físico. Então, muitos pais, ouvindo isso, acabam querendo ver seus filhos prontos, sem considerar o tempo de maturação e aptidão que a nova geração precisa ter. Isso acaba gerando discussões e os filhos, que por sua vez se sentem cansados de insistir com os pais sobre suas novas ideias, acabam desistindo de tanto ouvirem discursos parecidos com: ‘sempre fiz assim e sempre deu certo’, por exemplo”.

– Outra questão que Haddad sempre ouve dos pais em seus trabalhos de consultoria, quando o assunto é a implantação de um e-commerce, é: “esse moleque não consegue por o site para funcionar”, esquecendo-se de que não basta apenas criar um site para se transformar digitalmente se não houver um trabalho forte de precificação, cadastro de produtos, entre outras dificuldades que limitam. “As pessoas acabam confundindo o ambiente de trabalho com o ambiente pessoal. Ou seja, o pai não vê o seu filho como deveria, como colaborador ou sócio, e o filho muitas vezes vê o pai como alguém que pode lhe dar regalias e não como o dono da empresa”, esclarece.

O que seria uma transformação digital de fato?

Na visão do executivo, a pandemia trouxe diversos aprendizados, inclusive para o meio supermercadista, que ampliou a importância do seu papel social não só junto aos clientes, mas também com os seus colaboradores.

E no pós-pandemia muitas experiências também vão poder ser ampliadas, como por exemplo, o social retail, que já é uma realidade nos supermercados dos Estados Unidos, e pode acabar sendo uma tendência no Brasil, já que as pessoas vão querer se confraternizar mais, se reunindo, por exemplo, em espaços de cafés para conversarem.

Outra tendência são as lojas mais animadas e conectadas aos clientes, interativas, com telões ou painéis digitais, com poucos colaboradores coordenando alguns pontos. “Neste quesito, o ambiente online passará a ser comum, enquanto o espaço físico se torna uma experiência mais divertida presencialmente. Ou seja, o hábito de consumo que vemos hoje pode se inverter”, deixa a dica.