Supermercados: lockdown não resolve o problema

 Supermercados: lockdown não resolve o problema

Nas últimas semanas, cerca de 43 munícipios do estado de São Paulo – conforme o balanço feito pela Associação Paulista de Supermercados (APAS), até o dia 26 de março – vêm decretando o lockdown, na tentativa de conter o aumento da pandemia, que tem levado grande parte das redes de saúde ao colapso. Mas será que radicalizar, fechando os estabelecimentos que prestam serviços essenciais, como os supermercados e hipermercados, realmente ajuda a reduzir a contaminação? Afinal, até onde sabemos, é preciso também mais vacinas, mais UTIs, mais conciência, mais políticas públicas e por aí vai.

Se considerarmos o ponto de vista da ciência, que seria o mais sensato, levando-se em consideração as contribuições que ela tem dado, desde o início da pandemia, “desenvolver estratégias mais direcionadas para cada tipo de estabelecimento, com base nos dados de deslocamentos das pessoas pelas cidades, pode ser mais eficaz do que adotar o fechamento generalizado de comércios”, defende o estudo americano realizado pelos pesquisadores da Universidade de Stanford e da Universidade de Northwest, publicado pela revista Nature e a BBC Brasil.

A pesquisa foi realizada no final do ano passado, nas dez maiores cidades dos Estados Unidos, e comprovou que limitar a ocupação máxima dos estabelecimentos, levando em conta a necessidades de mobilidade da população, pode reduzir a contaminação sem obrigar o fechamento total dos estabelecimentos.

Para Ronaldo dos Santos, presidente da APAS, a questão é evidente: “Quando um município fecha, as pessoas de maior renda conseguem se movimentar, saindo de carro para a cidade vizinha, mostrando que o lockdown não vai resolver o problema porque elas continuarão buscando os serviços essenciais em outro lugar. Agora, e as pessoas de baixa renda, que não possuem carro, ou têm dificuldade para se locomover, como fazem? Ficam cerceadas para comprar seus alimentos, muitas vezes por cinco dias consecutivos, dependendo do decreto?”, questiona, acrescentando a necessidade de se refletir sobre esses decretos de lockdowns mais rígidos, que acabam resultando em aglomerações, aumentando os riscos de vulnerabilidade social nas cidades.

Por isso, além de buscar o diálogo com os membros do poder executivo, a APAS, junto com a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), lançou a campanha Super Essencial, veiculada nas principais mídias do País, com o objetivo de manter os supermercados em pleno funcionamento, durante a pandemia, e de garantir que o setor supermercadista consiga continuar abastecendo a população, de forma segura e ininterrupta. Afinal, essas rupturas na cadeia de abastecimento não só prejudicam ainda mais a economia do País, como também acarreta problemas na indústria alimentícia, com os caminhoneiros, os pequenos produtores agrícolas, comerciantes e, principalmente, a população.

Resultados negativos gerados pelos lockdowns

Cidades como Araquara, no interior de São Paulo, que decretaram o lockdown mais rígido, no mês de fevereiro, já colhem alguns resultados, no mínimo questionáveis, após ter fechado todos os estabelecimentos, incluindo os dos serviços essenciais.

De acordo com a revista Oeste, um mês após o fechamento de tudo – como bancos, supermercados, postos de combustíveis e até mesmo a circulação de pessoas e de carros -, o número de pacientes internados com a Covid-19 aumentou. Conforme a matéria publicada em 22/03 (após um mês), “o número de pacientes que precisam de leitos de UTI para se tratar da Covid-19 aumentou 37% – eram 62 no dia em que a medida entrou em vigor (21/2). São 85, segundo o boletim do último domingo, 21 de março. Outro número que aumentou consideravelmente foi o de mortos. Entre 31 de dezembro de 2020 e 21 de fevereiro de 2021, o índice diário de óbitos relacionados à doença estava em 1,5. Considerando que os pacientes graves com Covid-19 pemanecem internados em torno de 15 a 20 dias antes do óbito, o Oeste levantou apenas os números entre o 20º dia de lockdown e ontem (21/2): período em que a taxa ficou em 3,8 mortes por dia”, esclarece a publicação.

Ou seja, pelo que parece, restringir radicalmente o acesso da população não é o caminho. Pelo contrário, pode ser um empurrão para fazer com que ela se aglomere ou fique mais vulnerável, já que alimentar-se é uma necessidade básica, sem se contar o acesso aos demais produtos de higiene, saúde, limpeza, entre outros que podem ser essenciais ou não, dependendo de quem os interpreta