Perspectivas da economia e do comércio exterior em 2021

 Perspectivas da economia e do comércio exterior em 2021

O relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico prevê um cenário global ainda relativamente complexo para 2021. A OCDE estima que o Produto Interno Bruto (PIB) global pode crescer 4,2% em 2021.

Além de ser um valor ainda abaixo dos 5% estimados anteriormente, sua concretização dependerá principalmente da aplicação bem-sucedida das vacinas contra a covid-19 ao redor do mundo. Até o momento, mais de 40 países já iniciaram a vacinação.

Uma peculiaridade da retomada da economia global é que existe uma demanda reprimida e uma atividade industrial que ficou muito abaixo da sua capacidade. Então, em um primeiro momento a atividade interna se recuperará com mais impulso, crescendo mais rápido que o comércio internacional, que levará mais tempo para retornar ao patamar pré-pandemia.

Estima-se que o crescimento mundial será mais vigoroso a partir do segundo semestre do ano, com a vacinação em estágio mais avançado. E uma vez encaminhada essa questão, o crescimento será afetado por outras incógnitas, que têm estado relativamente fora do radar, desde as condições de cada região do planeta até algo que poucos imaginariam: faltam containers no mercado, e eles são caros de se produzir.

Vamos analisar alguns dos principais players, inclusive o Brasil.

ESTADOS UNIDOS

Será preciso esperar quais serão as novas diretrizes do governo Biden, em especial com relação ao meio ambiente e, principalmente, a relação dos EUA com a China. Sabemos que ambos continuarão defendendo seus próprios interesses, mas espera-se que a disputa aconteça com mais sutileza.

CHINA E SUDESTE ASIÁTICO

A China iniciou sua recuperação mais cedo, e deverá crescer 8% em 2021, respondendo por mais de um terço do crescimento econômico global no ano. Deve-se assinalar também que o Sudeste Asiático, que também tem outros players com uma tração própria, será ainda mais alavancado pelo crescimento chinês, e deverá ser uma das regiões que crescerá mais vigorosamente.

Com relação aos mercados, há perspectivas favoráveis para os países do Sudeste Asiático, Oriente Médio, Europa e Estados Unidos. A incógnita é a América Latina, principalmente, para os manufaturados brasileiros.

UNIÃO EUROPEIA

O Brexit foi finalizado, mas a União Europeia não terá muito tempo para lamentar a falta do Reino Unido, pois o ambiente econômico está de vento em popa. Após 7 anos, concluiu-se o Acordo de Investimentos Recíprocos com a China, dando a entender que haverá estímulos para investimentos conjuntos e mais comércio, com certeza.

BRASIL

Caso se confirme um atraso na vacinação no Brasil, haverá um impacto negativo em nossa economia. Então, mesmo com todos os problemas que sabemos que existem, econômicos e logísticos, será preciso demonstrar empenho na questão, para passar uma mensagem otimista aos agentes econômicos.

A participação do Brasil no comércio internacional ainda é uma incógnita que depende de vários fatores, a começar pelos preços das principais commodities, que são produtos de exportação do Brasil, e o desempenho das economias dos países da América Latina, que também dependem das exportações de commodities, principalmente para o Sudeste Asiático, a taxa de câmbio real-dólar, e até como a falta de containers vai nos afetar.

Com relação aos preços das principais commodities exportadas pelo Brasil, a tendência é que continuem altos, em função da demanda da China. Em relação aos manufaturados, o “Custo Brasil” continuará sendo o grande entrave para o crescimento da produtividade e, consequentemente, da nossa competitividade em mercados internacionais.

Mas, com todos os nossos pontos fortes e fracos, o comércio exterior poderá ser a alavanca do crescimento econômico do Brasil. Nossas exportações poderão ficar entre US$ 230 bilhões a US$ 240 bilhões, com crescimento de 10% a 15%, e as importações poderão estar entre US$165 bilhões a US$ 170 bilhões, com crescimento de 5% a 8%.

Confirmadas essas estimativas, o superávit comercial brasileiro poderá chegar a um valor entre US$ 65 bilhões a US$ 70 bilhões, com crescimento entre 25% a 34%.

Já a taxa de câmbio de equilíbrio é difícil de se prever, porém, é importante mencionar que ela é determinada por fatores estruturais da economia, como a taxa de crescimento da renda per capita e os termos de troca comercial e por variáveis influenciadas pela política macroeconômica, como o diferencial das taxas de juros internas e externas, o saldo em conta corrente, o estoque de reservas internacionais e o risco país.

O Brasil deve aumentar sua participação no comércio mundial, porque só tem a ganhar com isso. Mas isso exige que tanto os empresários, quanto o governo, tenham visão clara de cidadania, liderança e gestão da coisa pública.