O retrato do consumo brasileiro após um ano de pandemia

 O retrato do consumo brasileiro após um ano de pandemia

A mais recente edição do estudo Consumer Insights, produzido pela multinacional Kantar, revelou que o último trimestre de 2020 foi o pior momento da pandemia para o consumo fora do lar no Brasil, enquanto o dentro do lar teve um saldo positivo, impulsionado pelos gastos das classes CDE que receberam o auxílio emergencial. Segundo os analistas, a suspensão do auxílio, a indefinição sobre sua retomada, a alta do desemprego e dos preços e o aumento dos níveis de pobreza devem impactar diretamente no consumo do Brasil em 2021.

“O ano de 2020 terminou com saldo positivo dentro do lar graças aos gastos maiores das classes CDE. Para 2021, o desafio é sustentar isso, já que a frequência de compras tem uma tendência orgânica de queda e o volume médio por compra cai. Sem o auxílio emergencial será necessário atacar mercados mais vulneráveis, minimizando os riscos de desaceleração”, declara David Fiss, Diretor de Serviços ao Cliente & Novos Negócios da Kantar.

Apesar de ter havido um crescimento no curto prazo, graças à flexibilização das medidas restritivas e ao consumo de refeições e cervejas, o consumo fora do lar caiu entre outubro e dezembro de 2020, em todos os cenários: 5,8% na comparação com o trimestre anterior e expressivos 28,8%, considerando o mesmo período do ano anterior.

A retração foi puxada por diversas categorias, como por exemplo: água mineral, bebidas quentes, água de coco, energético, sucos, sanduíches frios e quentes, incluindo hambúrgueres, salgados diversos, iogurtes, bolos, chocolates, outros doces, biscoitos e barras de cereal. Ela foi atribuída especialmente às classes sociais mais baixas.

A alta dos preços também foi um dos fatores responsáveis. Comparado com o último trimestre de 2019, as refeições subiram 16%, as bebidas quentes 15% e os doces 14%. Entre outros fatores estão a suspensão do auxílio emergencial, fornecido para 58% das famílias brasileiras; a indefinição sobre a sua retomada, a alta do desemprego e o aumento dos níveis de pobreza.

Consumo dentro do lar

Neste quesito houve uma expansão de gastos com todas as cestas de consumo entre as famílias que receberam o auxílio emergencial. Essas cestas apresentaram o dobro de crescimento nos primeiros meses de pandemia e houve mais acesso às categorias de consumo massivo.

No primeiro e segundo trimestres do ano a classe DE, que representa ¼ dos domicílios brasileiros, foi a que registrou maior percentual de variação de gastos – respectivamente 9% e 14% -, graças ao fato de que 72% de seus membros receberam a ajuda do governo. Mas isso não se sustentou após junho: no terceiro trimestre caiu para 8% e no quarto para 6%. Já as classes AB e C conseguiram sustentar o crescimento ao longo do ano.

As cestas mais beneficiadas pela injeção do montante foram as de mercearia doce, perecíveis e higiene & beleza. Já as cestas de bebidas e de mercearia salgada tiveram um desempenho melhor entre os domicílios que não receberam o auxílio.

O auxílio também permitiu mais acesso a itens de maior valor agregado entre os domicílios que o receberam. Houve crescimento de marcas premium nos dois grupos, porém, para os que não o receberam, foi importante recorrer às promoções.

Categorias

Entre os produtos mais consumidos durante os meses da pandemia, em 2020, o cloro foi a principal categoria dentro do lar em todas as classes sociais. Devido à necessidade de redobrar os cuidados com a limpeza e higiene, o produto ganhou 18,3 pontos de penetração de 2019 para 2020.  O aumento na classe AB foi ainda maior, da ordem de 20,6 pontos. Já na classe C foi de 17,7 e na DE de 17%.

Outras categorias que cresceram nas mais variadas rendas familiares foram o azeite (11,7 pontos de penetração), presuntaria (11,6), pão industrializado (8,1) e ketchup (7,9).  Nas classes AB, o destaque foi para o aumento do consumo de batata congelada (8,2) e manteiga (7,3), e na classe DE, os empanados (11,3).  Houve retração nas categorias de bebida à base de soja (-3,8), bolo pronto (-2,9), escova dental (-2), leite aromatizado (-2) e bronzeador (-1,6).

O estudo Consumer Insights avaliou 11.300 lares em todo o Brasil, que estatisticamente representam 58 milhões de lares.