Desempenho do varejo em julho ficou abaixo do previsto pelo mercado

 Desempenho do varejo em julho ficou abaixo do previsto pelo mercado

As vendas recuaram 0,8%, na terceira queda mensal seguida. Preços e juros elevados mantêm o consumidor cauteloso

O volume de vendas do comércio varejista no país recuou 0,8% em julho, na comparação com junho, registrando o terceiro mês consecutivo de taxa negativa. No acumulado do ano, o varejo registra variação de 0,4% e, nos últimos 12 meses, o setor tem queda de 1,8%.

Os dados são da Pesquisa Mensal de Comércio, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No comércio varejista ampliado, que inclui as atividades de veículos, motos, partes e peças e de material de construção, o volume de vendas em julho caiu 0,7%, na comparação com o mês anterior e 6,8% na comparação com julho de 2021.

O mês de abril foi o último com crescimento. Desde então, maio, junho e julho acumulam recuo de 2,7%. Por conta desses resultados, o setor se encontra praticamente no mesmo nível do período pré-pandemia, fevereiro de 2020, com variação de 0,5%.

O resultado negativo do setor em julho, apresentou queda em nove das 10 atividades pesquisadas, contando com o varejo ampliado. O maior recuo foi em tecidos, vestuário e calçados (-17,1%).

As demais quedas foram em móveis e eletrodomésticos (-3%), livros, jornais, revistas e papelaria (-2%), equipamentos e material para escritório informática e comunicação (-1,5%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-1,4%), hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,6%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,5%).

Apenas a atividade de combustíveis e lubrificantes (12,2%) mostrou crescimento. Segundo o gerente, isso é resultado da política de redução do preço dos combustíveis.

ANÁLISE DA BOA VISTA

Essa queda mais acentuada na análise de longo prazo já era esperada pelos economistas da Boa Vista, dado que o indicador antecedente de Movimento do Comércio havia antecipado essa tendência ao passar de -0,8% em junho para -1,5% em julho. O resultado da comparação interanual também veio alinhado ao indicador da Boa Vista, que havia apontado queda de 4,5% contra julho do ano passado.

Em linha com o que foi observado nos dois últimos meses, desta vez o varejo novamente perdeu espaço na disputa com o setor de serviços, que captou boa parte do consumo e registrou bom desempenho no mês.

Em julho, o alívio da inflação e a melhora no mercado de trabalho não foram suficientes para segurar a queda no setor. Apenas o grupo de “Combustíveis e lubrificantes” se beneficiou das quedas nos preços, justamente pelo efeito da PEC dos Combustíveis, que tem aliviado a pressão inflacionária no segmento.

E apesar da renda dos trabalhadores ter voltado a subir gradualmente, junto com o aumento da população ocupada, esse movimento ainda não surtiu o efeito desejado sobre o comércio varejista.

Os elevados níveis de preços e juros continuam mantendo os consumidores cautelosos e gerando obstáculos à retomada do setor. Diante deste cenário, uma recuperação está condicionada a continuidade da melhora no mercado de trabalho e queda no preço dos itens de consumo de primeira necessidade, como de ‘Super e hipermercados’, que ainda não tem ocorrido, mesmo com o aperto da política monetária.

Segundo os economistas da Boa Vista, a despeito deste cenário pouco amistoso, o varejo ainda pode reverter a queda do resultado acumulado em 12 meses dado que a base de comparação não é muito forte, lembrando que a PMC apontou queda de 3,0% no volume de vendas entre o 2º semestre de 2020 e o 2º semestre de 2021.

“Além disso, a combinação entre redução da inflação, aumento no nível de emprego e os auxílios do governo podem dar mais fôlego para o setor nesta segunda metade do ano. Período que também conta com datas comemorativas importantes para o varejo e que terá, em novembro, uma movimentação extra em decorrência da Copa do Mundo. São fatores pontuais para o comércio varejista em um primeiro momento, mas que podem alavancar as vendas em tempos de maiores dificuldades”, diz o economista da Boa Vista, Flávio Calife.

IMAGEM: Newton Santos/DC