Daiso conquista os brasileiros e abre 30 lojas por ano
Rede japonesa, que investiu mais de R$ 100 milhões no país, atribui expansão ao modelo de negócio que foca em qualidade, preço baixo e oferta de produtos Kawaii (fofinhos)
Como um especialista em varejo responderia à seguinte pergunta de um empresário japonês: “Se eu vender no mercado brasileiro os mesmos produtos que no Japão vou ter sucesso?”
Provavelmente, a resposta dependeria de uma boa pesquisa de mercado, até porque os costumes dos japoneses são diferentes dos do brasileiro. Eis alguns exemplos.
No Japão, o consumidor tem uma relação forte com as lojas de conveniência, local onde encontra as soluções para o dia a dia, de remédios até refeições para o almoço e o jantar.
A família japonesa tem mais poder aquisitivo que a brasileira e, como vive em imóveis minúsculos, recorre a produtos pequenos tanto para uso diário como para decoração.
Com ou sem pesquisa de mercado, o fato é que a Daiso Japan, a maior rede de varejo do Japão, com 4.280 lojas naquele país, decidiu, em 2012, trazer o seu negócio para o Brasil.
Se o sucesso da empresa pode ser medido pelo ritmo de expansão, dá para afirmar que, pelo menos até agora, vender aqui o que vende no Japão foi uma decisão acertada.
Em 12 anos, a rede varejista japonesa investiu mais de R$ 100 milhões no país, onde possui 172 lojas nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Pará e Distrito Federal.
Desde 2020, a Daiso abre pelo menos 30 lojas por ano. Das 172, 67 são próprias e 105, operadas no modelo store in store, loja dentro de loja, especialmente em supermercados.
A demanda para firmar negócios com parceiros brasileiros tem crescido a ponto de a rede abrir por ano pelo menos 20 novas unidades do modelo store in store.
A oferta de produtos divertidos, fofinhos (kawaii, em japonês), de boa qualidade e com preços acessíveis explicam, de acordo com informações da rede, a conquista dos brasileiros.
O NEGÓCIO
A Daiso oferece mais de 4 mil itens para os clientes das linhas de casa, cozinha, papelaria, brinquedos, informática, beleza, jardinagem, alimentos, decoração e artigos para pet.
Cerca de 500 novos itens são colocados nas prateleiras todo o mês. Se for à loja toda a semana, o cliente deve encontrar algum produto que não tinha visto na semana anterior.
“O sucesso da Daiso no Brasil acontece porque os produtos têm qualidade e preço barato, além de oferecer itens exclusivos”, afirma Marcos Hirai, responsável pela expansão da marca no país.
Uma equipe no Japão fica o tempo todo quebrando a cabeça para desenvolver produtos inéditos, úteis, fofos, criativos para, em seguida, buscar os fabricantes.
Os nascidos na Geração Z, a partir da metade da década de 1990, são um público importante para a rede. “Eles gostam da sensação de ter poder de compra, sem ter de enfrentar burocracias.”
A empresa importa 90% dos produtos que comercializa. O estoque fica concentrado em um centro de distribuição em Itaquaquecetuba (SP), que abastece as quase 180 lojas da rede.
“Devido à grande aceitação do público brasileiro, continuaremos a adotar a estratégia de expansão no Brasil”, informa a rede em resposta às perguntas do Diário do Comércio.
Desde a chegada ao Brasil, com a abertura da primeira loja na Rua Direita, no Centro de São Paulo, já fechada, a Daiso é presidida por Keisuke Ohno, um executivo low profile.
No Brasil, a rede tem hoje dois revendedores autorizados a distribuir os seus produtos. O grupo Yamcol, com foco na região Norte, e o grupo Mikami, concentrado em Goiás e Distrito Federal.
NO JAPÃO
Em um país praticamente do tamanho da soma dos Estados de São Paulo e de Santa Catarina, a rede possui 4.280 lojas e um plano de abrir 200 novas unidades por ano.
“Com essa capilaridade, a empresa acabou sendo a loja do dia-a-dia dos japoneses. Dá para dizer que, no Japão, há quase uma Daiso em cada esquina”, afirma Hirai.
A diferença entre os negócios aqui e no Japão, diz, é que lá a rede consegue vender tudo a 100 ienes, valor próximo a US$ 1, o que a transformou na maior rede mundial deste segmento.
CONCORRÊNCIA
A empresa japonesa entende que, no Brasil, não tem concorrentes, apesar de existirem várias lojas espalhadas pelo país com “so” no nome, como Miniso, Uniso.
Um levantamento feito pela rede mostrou que tinham quase 20 lojas no Brasil com o uso de ‘‘so’’ no nome. “Há semelhanças arquitetônicas, mas não no modelo de negócio.”
Para ter sempre as lojas abastecidas e com novidades, diz, a logística é fundamental. Por isso, a rede mantém um estoque regulador capaz de dar cobertura para as lojas por um período.
“Se tiver alguma crise no setor de navegação, de importação, a empresa está preparada para atender às lojas por uns seis meses”, afirma.
NO MUNDO
A Daiso está presente em 26 países, com um total de 5.271 lojas. A primeira unidade da rede fora do Japão foi estabelecida em Taiwan, em 2001.
Na Ásia, está instalada em 14 países, no Oriente Médio, em seis. Nos Estados Unidos também tem forte presença, com mais de 120 lojas.
Na América do Sul, está apenas no Brasil, país com o maior número de lojas fora do Japão.
E-COMMERCE
Recentemente, a rede japonesa entrou no e-commerce no Brasil, canal de venda que representa hoje 5% do seu faturamento total.
O avanço das plataformas chinesas no mercado brasileiro não preocupa, pelo menos por enquanto. Eis a resposta da rede quando questionada sobre o assunto.
“A Daiso oferece mais de 4 mil SKUs (itens), que podem ser entregues em todos os Estados do Brasil. Considerando que a nossa plataforma digital representa 5% do faturamento total, aliada à compra por impulso, damos mais ênfase aos clientes que visitam nossas lojas físicas.”
Fonte: diário do comércio