A ‘economia do sono’ movimenta milhões pelo mundo

 A ‘economia do sono’ movimenta milhões pelo mundo

Hotéis que valorizam o sono ganham popularidade pelo mundo. Menus de travesseiros, estruturas à prova de som e até névoa perfumada fazem parte dos pacotes

De camas avaliadas em mais de US$ 200 mil a máscaras de seda, passando por terapias high tech, névoas perfumadas com óleos essenciais, cobertores com peso e chás medicinais. No universo hoteleiro, o céu tem sido o limite para melhorar a qualidade do sono dos hóspedes.

Uma boa cama e um bom livro, esse é o início de tudo, segundo Hästens Sleep Spa, um dos hotéis do sono mais famoso do mundo, aberto a pouco mais de dois anos em Coimbra (Portugal), de frente para o Rio Mondego. A receita pode até parecer simples, mas na verdade há muito por trás dessa supremacia do sono que o spa propõe.HÄSTENS OFERECE DESCANSO EM COLCHÃO DE MARCA QUE PODE CUSTAR US$ 2OO MIL

Com 15 quartos e experiências que partem de R$ 3 mil, o Hästens pertence a marca homônima de camas mais prestigiada em todo o mundo.

Feitas por mestres artesãos que usam métodos exclusivamente manuais e tradicionais desde 1852, cada cama leva mais de 300 horas para ser produzida. Na produção, somente recursos sustentáveis e materiais naturais, como a crina de cavalo, uma mistura de lã e algodão, linho, madeira de pinho e um sistema de molas exclusivo e patenteado.

Toda essa combinação cria as condições perfeitas para que o corpo relaxe ergonomicamente apoiado e sem pontos de pressão. Segundo a marca, trata-se de uma experiência comparável com “a sensação de descansar numa nuvem”. Se comprado no varejo, um colchão pode custar cerca de US$ 200 mil.

Outra empresa de colchões, a Emma Sleep, que decidiu apostar no nicho, deu vida à expressão mais famosa do sono e criou a experiência Shleep Sanctuary, no Reino Unido. Trata-se de uma cúpula transparente inserida no meio de um campo, onde dezenas de ovelhas pastoreiam. Assim, os hóspedes podem literalmente contar carneirinhos para dormir.SHLEEP SANCTUARY REPRODUZ LITERALMENTE O MOMENTO DE DORMIR CONTANDO CARNEIRINHOS

UM PEQUENO DESCANSO

Em meados de 2012, a cidade de São Paulo passou a receber uma série de iniciativas parecidas – os cochilódromos. Na época, dezenas de cabines individuais com uma cama, iluminação especial e uma seleção de músicas relaxantes ficavam disponíveis para os clientes que podiam tirar cochilos de 15 minutos a uma hora.

O modelo de negócio foi muito replicado, especialmente, próximo a centros empresariais, mas muitos acabaram fechando após um ano de operação, e outros conseguiram migrar para dentro de algumas empresas que decidiram oferecer o sono como um benefício aos colaboradores.

No Brasil, o modelo que melhor vingou foram as opções em aeroportos, que não visam exatamente um sono reparador – e sim um pequeno descanso. O Fast Sleep, por exemplo, que fica no Terminal 2 do aeroporto de Guarulhos, é da rede de hotéis Slaviero, que tem unidades em várias cidades do Brasil.

Fato é que cada vez mais pessoas estão dispostas a viajar para dormir bem e 2022 chancelou o turismo do sono como uma tendência para os próximos anos, segundo Rebecca Robbins, pesquisadora do sono e coautora do livro Sleep for Success.

Para a especialista americana, a pandemia parece ter desempenhado um grande papel nisso tudo. Um estudo publicado no Journal of Clinical Sleep Medicine indica que 40% dos mais de 2,5 mil adultos relataram uma diminuição na qualidade do sono desde o início da pandemia e que qualquer estratégia ou ferramenta centrada em um sono saudável é tida como muito útil.PALAFITAS NAS MALDIVAS ACOMPANHAM SERVIÇO DE GURU DO SONO

No Anantara Kihavah, nas Maldivas, além de quartos flutuantes, uma espécie de guru do sono acompanha os hóspedes durante toda a estadia por meio de um programa de enriquecimento do sono. Isso inclui uma avaliação com teste epigenético, sessões de ioga e exercícios respiratórios, infusão intravenosa de suplementos, serviço de chás e banhos com aromas relaxantes – tudo à beira mar e com diárias que partem de R$ 10 mil.

A ilha tem se tornado referência nesse aspecto e Six Senses, Hyatt, Mandarin Oriental e Belmond são outras redes que contam com programas do gênero.

Mas por traz de tantas cifras elevadas e serviços luxuosos, Rebecca explica que empresários do ramo e interessados nesse tipo de negócio precisam ter outra palavra como foco, o wellness, ou em português, bem-estar.

Segundo Rebecca, é esse tipo de sensação que verdadeiramente desperta desejo e interesse hoje em dia. Pois, durante muito tempo, as pessoas associaram viagens a muitas atividades e refeições luxuosas. Ou seja, um verdadeiro checklist quase às custas do sono e com uma enorme privação do descanso. Nesse sentido, muitos destinos passaram até a ser evitados por determinados grupos que temiam voltar exaustos de suas férias.

A pesquisadora também destaca que a maioria dos hotéis ainda prefere investir em uma TV gigante do que em colchões diferenciados, bons chuveiros e isolamento acústico – itens que podem fazer uma enorme diferença para uma boa noite de sono.

Entretanto, isso vem sendo revisto. Nos últimos anos, por influência da pandemia, houve uma enorme mudança em nossa consciência coletiva na direção da priorização do bem-estar.

Com preços mais acessíveis, o hotel Zedwell, em Londres, foi um dos primeiros a se vender como focado no sono – com tarifas a partir de R$ 600. Absolutamente tudo no empreendimento é projetado para incentivar um sono melhor. Iluminação baixa em áreas públicas e quartos, travesseiros confortáveis, isolamento sonoro, quartos sem janelas e cartões eletrônicos de acesso que não emitem nenhum sinal sonoro. Os estímulos visuais também são restritos. Não há TVs, mesas ou cadeiras. Portanto, o hóspede é sempre direcionado para o repouso.

Também na capital britânica, o Brown’s Hotel, do grupo Rocco, desenvolveu um programa de duas noites de hospedagem que garante a experiência do “sono sereno”, que inclui massagens, máscara de dormir de seda com infusão de lavanda, tratamento especial no spa e carta de chás de ervas acalmam.

IMAGENS: Divulgação